O interior da Terra abriga mais vida que toda a vida dos continentes e oceanos; e é menos explorado que os planetas do sistema solar
As profundezas da Terra abriga um dos maiores, mais primitivo e misterioso ecossistema da Terra. É quase duas vezes maior em volume do que todos os oceanos do mundo, ou 400 vezes maior que a massa de todos os humanos juntos. É um mundo quase totalmente desconhecido de “matéria escura orgânica", com membros de todos os três domínios da vida: bactérias e arquéias (grande maioria) e organismos multicelulares.
Com um processo de economia extrema de energia, esses seres alimentam-se da energia extraída das rochas, como metano, hidrogênio e radiação natural (como urânio).
A profundidade recorde em que a vida foi encontrada na subsuperfície continental é de cerca de 5 km; o recorde em águas marinhas é de 10,5 km da superfície do oceano, profundidade de extrema pressão, o que representa uma casquinha dos 12.742 km de diâmetro da Terra. Esse hábitat extremo da "vida profunda" (deep life) é fundamental no ciclo global do carbono (a matéria-prima da vida) e seu impacto nos ecossistemas da superfície da Terra, pois menos de 1% do carbono total da Terra está acima da superfície nos oceanos, na terra e na atmosfera; o resto está abaixo da superfície, incluindo a crosta, o manto e o núcleo. A vida profunda tem um impacto importante nos ciclos biogeoquímicos globais, como o equilíbrio químico das rochas e dos reservatórios de água, e no clima global, como na captura de carbono e no resfriamento do planeta. Em 1864, antes mesmo das Ciências da Terra existirem, Júlio Verne já especulava sobre um "mundo" oculto no interior da Terra. No clássico "Viagem ao Centro da Terra", uma equipe de exploradores desce pela cratera de um vulcão, chegando a um território de dimensões colossais, com oceano, ilhas, nuvens e até luz gerada por um fenômeno elétrico desconhecido. Também havia vida que na superfície era considerada já extinta há milhares de anos, como dinossauros e homens das cavernas. A ficção científica, hoje, dá lugar à descoberta desse gigantesco ecossistema inexplorado. Não é o mundo idealizado por Verne, mas pode ter sido o dos primórdios da vida, e, sem ele, a vida na superfície não prosperaria por toda a Terra.
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