Em 17 de janeiro de 1903, nasceu Benedita Cipriano Gomes na Fazenda Mozondó, a 40 km de Pirenópolis, Goiás, conhecida como Santa Dica. Na sua infância ficou enferma sendo informado seu falecimento no povoado em que residia. Entretanto, durante o banho do defunto, notaram que ela suava. Com receio de enterrá-la, mantiveram o velório e após três dias, Benedita despertou.
A estória da ressurreição espalhou-se de tal modo que as pessoas diziam ser um milagre, já que naquela época não existiam recursos médicos como atualmente. Para os cientistas o que houve foi uma catalepsia. Mas dezenas de pessoas começaram a migrar para a fazenda da moça, pedindo bençãos e graças.
Ela passou a comandar legiões de adoradores, assim formou-se um povoado, instituiu um sistema na região, abolindo o uso genérico do dinheiro físico, pregava a distribuição de terras, plantava, colhia e distribuía os frutos entre os seguidores que a ajudavam no plantio, construiu um hospital e uma escola para pessoas carentes.
Mas sua influência incomodava os coronéis da região, A fama da curandeira espalhou-se, o que fazia atrair mais seguidores. Como Dica tinha uma vertente Espiritualista, a igreja católica contestou que ela fosse canonizada, após seu falecimento. Ela foi a líder de um movimento social religioso iniciado na década de 1920 no distrito de Lagolândia, município de Pirenópolis, no Estado de Goiás. Santa Dica é assim chamada porque ainda na adolescência se tornou curandeira. Ela possuía posses e não era pobrezinha, mas o desejo de justiça e igualdade social eram temas recorrentes em suas pregações. Sua fazenda foi o primeiro cenário de compartilhamento de recursos, bens, oferendas e colheitas. Assim prosseguia, fazendo curas milagrosas, rezando suas orações, ocupando lugar de Conselheira do pequeno povoado e pregando a valorização da mulher na sociedade, a não violência, a justa distribuição de bens, e cultuando o coletivismo.
Em 1925, o Governo Estadual mandou uma tropa para o povoado para prendê-la, alegando tumulto no Estado de Goiás. Ela pregava que a Terra é uma doação divina, portanto tudo deveria ser partilhado entre todos os seres humanos para colher os frutos da Terra. Com este discurso atraiu a fúria de um exército de coronéis e acabou sendo presa. Pressionados pela população, a polícia da época acabou liberou-a. A Santa de Pirenópolis_GO comandava tropas, que ficaram sendo conhecidos como "pés com palha e pés sem palha".
Dica dirigiu-se, então, para o Rio de Janeiro e São
Paulo, onde foi retratada pela pintora Tarsila do
Amaral e homenageada com um poema de Jorge
de Lima. Em 1927, voltou a Lagolândia e refez a
sua comunidade. No ano de 1932, a pedido do
interventor de Goiás, enviou uma tropa para
lutar ao lado das forças legalistas na Revolução
Constitucionalista de São Paulo. Em 1928, casou-se com o jornalista carioca Mário Mendes, eleito prefeito de Pirenópolis em 1934, tiveram cinco filhos e adotaram mais dois. O exército dos "pés com palha e pés sem palha" participou da Revolução Constitucionalista de 1932.
Em uma conversa com o advogado aposentado, Inácio Fernandes, ele informou que passou a adolescência na escola do povoado da Santa Dica.
Ela possuía capacidades mediúnicas e passava mensagens de desencarnados para os "entes queridos"(psicografias), segundo ele.
Dica morreu em 9 de novembro de 1970 em Goiânia-GO. Legiões de seguidores, velaram durante três dias o seu corpo. Por mais que sua história tenha ganhado grandes dimensões, em reportagens, livros e estudos, Santa Dica nunca foi reconhecida como 'Santa' pelo Vaticano, apenas pela opinião popular. Em sua antiga casa, descendentes e devotos mantêm um visitado altar dedicado á ela e todo o povoado de Lagolândia e Pirenópolis revive à sua memória.
Fonte: Arquivos de Goiás

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