QUAL O PÃO MAIS ANTIGO? O PÃO É MAIS ANTIGO DO QUE A AGRICULTURA. REMONTA HÁ 14 MIL ANOS. ANTECEDENDO A AGRICULTURA EM 4.000 ANOS.
(University of Copenhagen. BBC). Pesquisadores descobriram os restos carbonizados de um pão achatado assado por caçadores-coletores há 14.400 anos. Receita do pão jordaniano de 14 mil anos atrás
O preparo começa com farinha de trigo e de cevada selvagem. Em seguida, acrescenta-se as raízes de plantas selvagens que crescem na água.
Aos ingredientes, mistura-se com água para virar uma massa, que depois é assada em pedras quentes ao redor do fogo.
Pegue a farinha feita de trigo e cevada selvagens, misture com raízes trituradas de plantas, adicione água e asse.
Seu formato para assar seria parecido com o de um pão achatado e o gosto parecido com o do pão multigrãos dos dias atuais.
Segundo relato publicado na revista cientítica PNAS, os cientistas descobriram dois edifícios, cada um contendo uma grande lareira de pedra circular dentro da qual foram encontradas migalhas de pão carbonizadas.
Analisadas com microscópio, as amostras de pão tinham sinais de moagem, peneiramento e amassamento.
A doutora Amaia Arranz-Otaegui, da Universidade de Copenhague, que descobriu os restos do pão, disse que isso era a última coisa que esperavam encontrar no local.
"O pão é um elo poderoso entre nossas culturas alimentares passadas e presentes", diz ela. "Isso nos conecta com nossos ancestrais pré-históricos."
O alimento teria sido feito em vários estágios, incluindo "moer cereais e tubérculos para obter farinha fina, misturar farinha com água para produzir massa e assar a massa nas cinzas quentes de uma lareira ou em uma pedra quente."
CAÇADORES E COLETORES
As pessoas que viviam há 14 mil anos na área da Jordânia onde os restos de pão foram achados eram caçadores. Eles caçavam gazelas e animais menores, como lebres e aves. E também buscavam alimentos vegetais, como nozes, frutas e cereais silvestres.
Os pesquisadores acham que o pão foi feito quando as pessoas se reuniam para algum tipo de celebração. Isso aconteceu antes do advento da agricultura, quando as pessoas começaram a cultivar cereais e a criar animais para se alimentar.
Isso levanta a intrigante possibilidade de que o cultivo de cereais para pão possa ter sido a força-motriz por trás da agricultura.
"O significado deste pão é que ele mostra investimento de esforço extra para produzir alimentos que tenham ingredientes misturados. E fazem uma espécie de receita", diz Fuller. "Isso implica que o pão desempenhou um papel especial para ocasiões especiais. E isso, por sua vez, sugere uma das possíveis motivações para, mais tarde, as pessoas escolherem cultivar e domesticar o trigo e a cevada, porque eles já eram espécies que tinham um lugar especial em termos de alimentos especiais."
As migalhas do pão encontrado foram analisadas com microscópio
O pão era sem fermento e teria se assemelhado a um envoltório, a uma espécie de pão pita ou chapati (indiano).
Pesquisadores tentaram reconstruir a receita no laboratório. Eles dizem que os grãos misturados deram ao pão um sabor de nozes, muito parecido com os pães multigrãos de hoje.
Lara Gonzalez Carretero, especialista em pão pré-histórico do Instituto de Arqueologia da UCL, examinou as 24 migalhas sob um microscópio eletrônico.
"Isso seria um pão feito de trigo selvagem e farinha de cevada selvagem, misturado com água e cozido em uma lareira", diz. "Há também a adição de farinha de tubérculo selvagem, o que lhe confere um gosto levemente amargo e com sabor de nozes ou castanhas."
Em um sítio arqueológico no nordeste da Jordânia, pesquisadores descobriram os restos carbonizados de um pão achatado assado por caçadores-coletores há 14.400 anos. É a evidência direta mais antiga de pão encontrada até hoje, antecedendo o advento da agricultura em pelo menos 4.000 anos. As descobertas sugerem que a produção de pão com base em cereais silvestres pode ter incentivado os caçadores-coletores a cultivar cereais e, assim, contribuído para a revolução agrícola no período neolítico.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Copenhague, do Colégio Universitário de Londres (UCL) e da Universidade de Cambridge analisaram restos de comida carbonizada de um sítio arqueológico de caçadores-coletores natufianos de 14.400 anos – um local conhecido como Shubayqa 1 localizado no Deserto Negro, no nordeste da Jordânia. Os resultados, publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, fornecem as primeiras evidências empíricas para a produção de pão:
“A presença de centenas de restos de comida carbonizada nas fogueiras de Shubayqa 1 é um achado excepcional e nos deu a chance de caracterizar práticas alimentares de 14.000 anos. Os 24 restos analisados neste estudo mostram que ancestrais selvagens de espécies domesticadas de cereais como cevada, einkorn e aveia foram moídos, peneirados e amassados antes do cozimento. Os restos são muito semelhantes aos pães sem fermento identificados em vários sítios arqueológicos neolíticos e romanos na Europa e na Turquia. Portanto, agora sabemos que os produtos semelhantes ao pão eram produzido muito antes do desenvolvimento da agricultura. O próximo passo é avaliar se a produção e o consumo de pão influenciaram o surgimento do cultivo de plantas e a domesticação”, disse a arqueobotânica da Universidade de Copenhague Amaia Arranz Otaegui, uma das principais autoras do estudo.
O arqueólogo da Universidade de Copenhague, Tobias Richter, que liderou as escavações em Shubayqa 1 na Jordânia, explicou:
“Os caçadores-coletores natufianos são de particular interesse para nós porque viveram um período de transição quando as pessoas se tornaram mais sedentárias e suas dietas começaram a mudar. Lâminas de foice de sílex, bem como ferramentas de pedra para moer encontradas em sítios natufianos no Levante, há muito tempo levam os arqueólogos a suspeitar que as pessoas começaram a explorar as plantas de uma maneira diferente e talvez mais eficaz. Mas o pão achatado encontrado em Shubayqa 1 é a evidência mais antiga de panificação recuperada até agora, e mostra que a panificação foi inventada antes do cultivo de plantas. Portanto, esta evidência confirma algumas de nossas ideias. De fato, pode ser que a produção precoce e extremamente demorada de pão com base em cereais silvestres possa ter sido uma das principais forças motrizes por trás da revolução agrícola posterior onde os cereais selvagens foram cultivados para fornecer fontes mais convenientes de alimentos”.
RESTOS CARBONIZADOS SOB O MICROSCÓPIO
Os restos de comida carbonizada foram analisados com microscopia eletrônica em um laboratório da Colégio Universitário de Londres pela candidata a Ph.D. Lara Gonzalez Carratero (Instituto de Arqueologia da UCL), que é especialista em pão pré-histórico:
“A identificação de ‘pão’ ou outros produtos à base de cereais na arqueologia não é simples. Tem havido uma tendência de simplificar a classificação sem realmente testá-la em relação a um critério de identificação. Estabelecemos um novo conjunto de critérios para identificar pão, massa e produtos semelhantes a mingau no registro arqueológico. Usando Microscopia Eletrônica de Varredura, identificamos as microestruturas e partículas de cada resto de comida carbonizada”, disse Gonzalez Carratero.
“O pão envolve um processamento intensivo de mão de obra que inclui descascar, moer e amassar cereais e assar. O fato de ter sido produzido antes dos métodos agrícolas sugere que era visto como especial, e o desejo de fazer mais desse alimento especial provavelmente contribuiu para a decisão de começar a cultivar cereais. Tudo isso depende de novos desenvolvimentos metodológicos que nos permitem identificar os restos de pão a partir de fragmentos carbonizados muito pequenos usando alta ampliação”, disse o professor Dorian Fuller (Instituto de Arqueologia da UCL).
Fontes
University of Copenhagen
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