terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

O almirante Villegagnon, em sua carreira militar,

 

"O almirante Villegagnon, em sua carreira militar, teve a proteção
pessoal direta de quatro reis de França, isto é: de Francisco 1º,
Henrique II, Francisco II e Carlos IX, além da rainha regente
Catarina de Médicis e também do imperador Carlos V, cuja vida
Villegagnon havia diretamente defendido no malogrado cerco de
Argel. Além disso, pelo seu preparo intelectual, Villegagnon era
escritor, falava várias línguas e foi amigo pessoal de dois dos mais importantes poetas franceses da época, Rabelais e Ronsard, que escreveu um poema em seu louvor, chamando-o de douto. Portanto, ele não era um aventureiro desalmado como pintaram os calvinistas, ávido de ouro e sangue, como seus contemporâneos Pizarro e Cortéz nas Américas. Villegagnon começou a pensar no Brasil em Brest, onde conversava com marinheiros que regressavam de viagens à América do Sul. Em Dieppe e Honfleur, ele teria encontrado com André Thevet e Hans Staden que estiveram em nosso país e ouviu também os grandes armadores normandos e bretões donos das naus que faziam o comércio tão lucrativo com o Brasil.
Em 1554, Villegagnon fez uma rápida viagem até o Cabo Frio e
informou-se de tudo o que era necessário para organizar uma
base naval e militar na Guanabara. De volta, motivou armadores
e cortesãos para obter financiamento de uma importante expedição ao Brasil. O rei Henrique II designou-o para uma missão que não quis especificar com clareza e não lhe deu nenhum título novo além do que já detinha, isto é, de Vice-almirante da Bretanha. Por isso, é fantasioso o titulo de Vice-rei do Brasil que alguns historiadores e romancistas lhe atribuíram. Seus grandes biógrafos franceses Heulhard e Peillard chamaram-no generosamente de Roi d’Amérique e de Vice-roi du Brésil, o que não é exato. Villegagnon chegou à Guanabara a 10 de novembro de 1555, com uma tripulação muito heterogênea de 600 homens e sua missão era exclusivamente militar e comercial, isto é: construir uma forte base naval para dar apoio ao já intenso e lucrativo tráfego comercial entre os portos franceses da Mancha e a costa brasileira. Como segundo objetivo a médio prazo, Villegagnon pretendia atacar os navios portugueses e espanhóis que voltavam das Índias, carregados de especiarias, e do Rio da Prata, com o ouro do Peru e a prata da Bolívia.
Os navegadores franceses se entendiam muito bem com os
indígenas, que os apoiaram até o fim. Preparavam os toros de
pau-brasil e acaju, aprisionavam papagaios, araras e micos,
estocavam pimenta e ficavam à espera da chegada das naus
francesas. Os franceses traziam tecidos de cores vivas, machados, facas, espelhos, anzóis, quinquilharias em geral, que eram trocados pelos produtos da terra brasileira. O almirante cultivou a amizade dos indígenas e do seu chefe Cunhambebe. Ele tomava aulas diárias de tupi e chegou a completar um dicionário tupi-francês que iniciara com André Thevet.
Ele era muito mais compreensivo com as faltas dos indígenas selvagens do que com os erros de seus turbulentos franceses, chamados pelos índios de “papagaios amarelos”, porque falavam muito e tinham cabelos louros.
Villegagnon começou por construir o forte Coligny na ilha que hoje leva o seu nome e agora abriga a nossa Escola Naval.
Para edificar essa fortaleza contou com o apoio voluntário dos
indígenas, chefiados pelo legendário chefe indígena Cunhambebe, de quem se fez amigo. Escolheu a praia do Flamengo, defronte à ilha, como base de operações em terra e lá fundou, no início de 1556, em homenagem ao rei francês Henrique II, a povoação de Henriville, ao lado da foz do rio Carioca, que hoje corre debaixo da Rua Barão do Flamengo. Esse pequeno rio teve importância fundamental para a França Antártica, pois fornecia água o ano inteiro para o forte Coligny e para as centenas de habitantes de Henriville (franceses e indígenas) que trabalhavam na construção da fortaleza e nas plantações vizinhas.
Henriville foi a primeira aglomeração urbana européia na baía da Guanabara, o que dá a Villegagnon a primazia na região.
Entretanto, não se lhe pode atribuir o título de fundador da cidade do Rio de Janeiro. Henriville durou apenas quatro anos, sendo arrasada por Mem de Sá, em março de 1560, por ocasião do ataque da grande esquadra portuguesa contra o forte Coligny. Henriville não teve continuidade como povoação e seu marco de fundação desapareceu. A 1º de março de 1565, Estácio de Sá fundou a cidade do Rio de Janeiro na Urca e, depois da expulsão definitiva dos franceses, em 1567, ela foi transferida para o morro do Castelo."
HISTÓRIA, São Paulo, 2008, Villegagnon: Herói ou vilão?
Vasco MARIZ
CARTA DE S. VICENTE (1560)
"Antes disto vieram outros, e, com eles, quatro Franceses, que, com o pretexto de ajudar aos inimigos na guerra, se queriam passar para nós outros, o que não puderam fazer sem muito perigo. Estes, como depois se supôs, apartáram-se dos seus, que estão entre os inimigos em uma povoação que chamamos Rio de Janeiro, daqui a cincoenta léguas, e têem trato com eles; fizeram casas, e edificaram uma torre mui provida de artilheria, e forte de todas as partes, onde se dizia serem mandados por El-rei de França assenhorearem-se daquela terra.Todos eles eram hereges, aos quais mandou João Calvino dois que lhes chamam Ministros, para lhes ensinar o que haviam de ter e crer. Daí a pouco tempo, como é costume dos hereges, começáram a ter diversas opiniões uns dos outros, mas concordavam nisto que servissem a Calvino e a outros letrados, e logo que eles respondessem isto, guardariam todos. Neste mesmo tempo um deles ensinava as artes liberais, grego e hebraico, e era mui versado na Sagrada Escritura, e por medo do seu Capitão que tinha diversa opinião, ou por querer semear os seus erros entre os Portugueses, uniu-se aqui com outros três companheiros idiotas, os quais como hospedes e peregrinos foram recebidos e tratados mui benignamente."
Joseph de Anchieta
E assim nasceu o Brasil!
A obra baseia-se em fatos históricos reais e fatos novos, o autor Detlef Günter Thiel realizou uma pesquisa completa sobre Hans Staden, um lansquenete espingardeiro alemão, em todo lugar onde esteve: no Norte de Hessen/Alemanha, em Portugal e no Brasil. Ele conhece a época das descobertas e utiliza os eventos históricos relevantes como fundo para uma descrição meticulosamente detalhada de todas as ocorrências. Deste romance histórico e seu tempo, poderão entender os hábitos das pessoas, e também o seu sofrimento naquela época, no Renascimento.

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